sábado, 28 de outubro de 2017

Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL

INTRODUÇÃO


As betalactamases de espectro estendido (ESBL) são enzimas que pertencem em sua grande maioria à classe molecular A da classificação de Ambler (ou seja são serinobetalactamases (possuem serina em seu sítio ativo) e são inibidas por inibidores de betalactamase (Ácido Clavulânico, Sulbactam e Tazobactam) e são capazes de hidrolisar a maioria das penicilinas e cefalosporinas, incluindo compostos oxiiminobetalactâmicos (Cefuroxima, Cefalosporinas de terceira e quarta gerações) e Monobactâmicos (Aztreonam), mas não hidrolisam as cefamicinas ou carbapenêmicos. O perfil de hidrólise das ESBLs é demonstrado na tabela 1:

Tabela 1: Perfil de hidrólise das ESBLs:

Penicilinas lábeis
Penicilinas associadas a inibidores de
β-lactamase
Cefalosporinas de
1ª geração
Cefalosporinas de
2ª geração
Cefalosporinas de 3ª geração
Cefalosporinas de 4ª geração
Monobactâmicos
Carbapenêmicos
SIM
NÃO
SIM
SIM* **
SIM
SIM
SIM
NÃO**
*AS CEFAMICINAS (CEFOXITINA) NÃO É HIDROLISADA PELA ESBL.
**PODE OCORRER RESISTÊNCIA ÀS CEFAMICINAS E AOS CARBAPENÊMICOS ATRAVÉS DA ASSOCIAÇÃO DE HIPERPRODUÇÃO DE ESBL + PERDA E/OU MUTAÇÃO DE CANAIS PORINA (ompF em Escherichia coli e ompK35 em Klebsiella pneumoniae).

Figura 1: Hidrólise do anel Betalactâmico pela ESBL.
Fonte: SILVA, K.C.; LINCOPAN, N.; 2012.













As primeiras cepas produtoras de ESBL foram identificadas em 1983, e desde então têm sido reportadas em todo o mundo. Essa distribuição é um resultado da expansão clonal de organismos produtores de ESBL, da transferência horizontal de genes de ESBL em plasmídeos e, menos comumente, surgimento de novas enzimas. Certamente os grupos clinicamente mais importantes de ESBLs são as enzimas CTX-M, seguido de SHV e ESBLs derivados de TEM. Certas enzimas derivadas de OXA da classe D também estão incluídas dentro do grupo das ESBLs, embora a inibição por inibidores de betalactamase de classe A seja mais fraca do que para outras ESBLs.
A produção de ESBL tem sido observada principalmente em Enterobacteriaceae, inicialmente em ambientes hospitalares, mais tarde, em casas de repouso, e desde o ano 2000, na comunidade (pacientes ambulatoriais, portadores saudáveis, animais doentes e saudáveis, produtos alimentícios). As espécies produtores de ESBL mais frequentemente encontradas são Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae. No entanto, todas as outras espécies de Enterobacteriaceae clinicamente relevantes são também comumente produtoras de ESBL.
A grande maioria das ESBLs é constituída de enzimas adquiridas, codificadas por genes localizados em plasmídeos. As ESBLs adquiridas são expressas em vários níveis, e diferem significamente quanto às suas características bioquímicas, tais como atividade contra Betalactâmicos específicos (por exemplo: Cefotaxima, Ceftazidima, Aztreonam). O nível de expressão e as propriedades de uma enzima, e a presença simultânea de outros mecanismos de resistência (outras Betalactamases, efluxo, permeabilidade alterada) resultam em uma grande diversidade de fenótipos de resistência observados entre os isolados ESBL-positivos.

DETECÇÃO DE ESBL EM Klebsiella pneumoniae

  1. Local de isolamento do microrganismo: Urina.
  2. Doenças de base do paciente: Insuficiência renal crônica.
  3. Metodologia empregada: Disco aproximação.

Imagem 2: Teste de sensibilidade aos antimicrobianos em uma
cepa de Klebsiella pneumoniae isolada de urocultura.
Fonte: Acervo do autor.


















Imagem 3: Detalhe do teste de disco aproximação. Note a presença
de "halos fantasmas" entre os discos de cefalosporinas de terceira e
quarta gerações e o disco de Amoxicilina + Ácido Clavulânico (AMC).
Isto indica que a presença deste inibidor de betalactamase reconstitui a
ação das cefalosporinas afetadas pela enzima produzida pelo microrganismo.
Este teste é considerado positivo para produção de ESBL.
Fonte: Acervo do autor.

















Imagem 4: Note a sensibilidade a Cefoxitina (CFO). A ESBL
não hidrolisa este antimicrobiano.
Fonte: Acervo do autor.


















Imagem 5: Note a presença de mutação na porção gyrA da enzima DNA-girase. Esta mutação leva a resistência aos
antimicrobianos da classe das Fluoroquinolonas (neste caso demonstradas
pelo Ciprofloxacino (CIP) e Levofloxacino (LVX)). Como este microrganismo
expressa ESBL, normalmente também é encontrado o gene qnr plasmidial
que confere baixo nível de resistência às Fluoroquinolonas.
Fonte: Acervo do autor.




















Imagem 6: Note a alteração de rota metabólica do PABA que este
microrganismo expressa através da resistência ao Sulfametoxazol +
Trimetoprim.
Fonte: Acervo do autor.





















CONCLUSÃO


Através deste antibiograma podemos notar que a maioria dos microrganismo que expressam ESBL são considerados mutirresistentes, pois expressam resistência não somente aos Betalactâmicos, mas também expressam resistência a outras classes de antimicrobianos como as Fluroquinolonas e os inibidores de síntese do ácido fólico. Este expressão de multirresistência se deve ao fato do gene que expressa ESBL, estar presente em um plasmídeo grande que contém genes de resistência a outros antimicrobianos, como o gene qnr (que expressa uma proteína capaz de proteger a enzima DNA-girase da ação das Fluoroquinolonas), enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (ex: AAC(3')) e enzimas que induzem a alteração de rota metabólica do PABA.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. SILVA, Ketrin Cristina da  and  LINCOPAN, Nilton. Epidemiologia das betalactamases de espectro estendido no Brasil: impacto clínico e implicações para o agronegócio. J. Bras. Patol. Med. Lab. 2012, vol.48, n.2, pp.91-99.



terça-feira, 3 de outubro de 2017

DETECÇÃO FENOTÍPICA DOS PRINCIPAIS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA AS LINCOSAMIDAS

METILAÇÃO NA PORÇÃO 23S DO rRNA (GENE erm)

DEFINIÇÃO

O gene erm induz a modificação do ribossomo bacteriano (metilação na porção 23S do rRNA), tornando desta forma o microrganismo resistente aos Macrolídeos e Lincosamidas.

CLASSIFICAÇÃO

Modificação no sítio alvo de ação do antimicrobiano.

ANTIMICROBIANOS AFETADOS

Eritromicina;
Claritromicina;
Azitromicina;
Lincomicina;
Clindamicina.

FORMAS DE DISSEMINAÇÃO

Plasmideais;
Cromossômicas (SCCmec --> transposição).

ANTIMICROBIANOS UTILIZADOS NA DETECÇÃO

Eritromicina;
Clindamicina.

COMO DETECTAR FENOTIPICAMENTE

Através do D-Teste.

D-TESTE
  • Preparar uma suspensão da cultura pura do microrganismo a ser testado (ex: Staphylococcus aureus) equivalente a escala 0,5 MacFarland e semear em uma placa de Ágar Mueller Hinton;
  • Colocar o disco de Eritromicina e 20 mm centro a centro deste, o disco de Clindamicina;
  • Incubar por 18-24 horas e realizar a leitura do halo de inibição;
  • Positivo: De acordo com a tabela 1;
  • Negativo: De acordo com a tabela 1.

TABELA 1: Critérios de interpretação do D-teste

MECANISMO
GENE
ENZIMA
ERI
CLI
TESTE DE INDUÇÃO
COMO REPORTAR
ALTERAÇÃO RIBOSSÔMICA
erm
MLSi
R
S
+
ERI – R
CLI – R
erm
MLSC
R
R
-
ERI – R
CLI – R
EFLUXO
msrA
-
R
S
-
ERI – R
CLI – S
ERI = Eritromicina; CLI = Clindamicina

EXEMPLO DE DETECÇÃO

Imagem 1: Detecção fenotípica do gene msrA (bomba de efluxo).
Note a resistência a Eritromicina e a sensibilidade a Clindamicina,
sem achatamento do halo de inibição da Clindamicina. Esta cepa
é portanto sensível a Clindamicina e resistente a Eritromicina.
Microrganismo: Staphylococcus aureus


















Imagem 2: Detecção fenotípica do gene erm (metilação
na porção 23S do rRNA). Note a resistência a Eritromicina
e sensibilidade a Clindamicina, com achatamento do halo de
inibição da Clindamicina (fenótipo MLSi). Esta cepa é portanto
resistente a Eritromicina e a Clindamicina.
Microrganismo: Staphylococcus aureus


















Imagem 3: Detecção fenotípica do gene erm (metilação
na porção 23S do rRNA). Note a resistência a Eritromicina
e resistência a Clindamicina, (fenótipo MLSc). Esta cepa é portanto 
resistente a Eritromicina e a Clindamicina.
Microrganismo: Staphylococcus epidermidis















LINCOSAMIDAS

INTRODUÇÃO

As Lincosamidas ou lincomicinas são antibióticos heterosídeos originais, mas com espectro e mecanismo de ação que se aproximam dos macrolídeos, com quem, inclusive, podem ter resistência cruzada. Esta classe é formada por um antibiótico natural, a Lincomicina e, por cinco derivados semissintéticos, dos quais somente a Clindamicina é utilizada na clínica, por apresentar melhor atividade antimicrobiana. Tem efeito bacteriostático e seu mecanismo de ação é o de bloquear a síntese proteica, de maneira similar aos antibióticos Macrolídeos.

Imagem 1: Molécula de Lincomicina (Lincosamida natural). Note
a presença do anel heterosídeo nesta molécula (contendo nitrogênio)

















Imagem 2: Molécula de Clindamicina. Note a presença do anel
heterosídeo semelhante a molécula de lincosamida, mas com alteração
na cadeia lateral, que confere melhor absorção do fármaco e melhor
espectro de ação.



















MECANISMO DE AÇÃO

Apresentam ação bacteriostática por bloquearem a síntese proteica bacteriana. As drogas se ligam à subunidade 50S do ribossomo bacteriano e impedem a transferência dos aminoácidos conduzidos pelo RNA de transporte para a cadeia polipeptídica em formação.

Imagem 3: Mecanismo de ação das lincosamidas. Estes fármacos
se ligam de maneira reversível (ou seja a ação de inibição da síntese
proteica pode ser revertida com a retirada da droga) na porção 50S
do ribossomo bacteriano (especificamente na porção 23S do rRNA
bacteriano) e inibem a síntese de proteínas essenciais para o desenvolvimento
do microrganismo.




















PRINCIPAIS REPRESENTANTES

  • Lincomicina;
  • Clindamicina (utilizado na clínica).

PRINCIPAIS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA

  • Metilação na porção 23S do rRNA (gene erm).

Imagem 4: Exemplo de detecção do gene erm em Staphylococcus
aureus.
 Note na imagem superior que ocorre achatamento do halo
da Clindamicina (expressão do gene erm). Na imagem inferior
não ocorre o achatamento do halo de Clindamicina (ausência do
gene erm). 
























Na próxima postagem será demonstrada como é realizado a detecção laboratorial do gene erm.

sábado, 23 de setembro de 2017

Paracoccidioidomicose

DEFINIÇÃO

É a doença causada pelo Paracoccidioides brasilienses, fungo dimórfico, sendo levedura no tecido parasitado, na forma de células globosas a piriforme e filamentoso nos meios de cultura artificiais incubados a 25oC. Infecta principalmente pulmões, pele e mucosa. No passado, a doença foi chamada de blastomicose sul-americana, termo que se tornou impróprio na micologia e na clínica, porque não há relação entre o microrganismo causador da paracoccidioidomicose e o da blastomicose.
O ciclo infeccioso do Paracoccidioides brasilienses ocorre por inalação dos conídios (propágulos) infectantes. Os conídios são pequenos o suficiente para serem depositados diretamente no alvéolo. No hospedeiro, a transição de forma conídio para levedura ocorre em torno de 18 horas. Isso se deve à diferença de temperatura do ambiente para o organismo hospedeiro. A forma de levedura é a invasiva, sendo responsável pela patologia. Micélio e conídios não são encontrados no tecido de pacientes infectados.
Imagem 1: Ciclo biológico do Paracoccidioides brasilienses.
A infecção se inicia pela inalação de conídios do fungo na forma
filamentosa. Após 18 horas, os conídios do fungo sofrem transição
para a forma leveduriforme, que é agressiva e não é contagiosa para
outros indivíduos (ou seja não ocorre transmissão de paracoccidioidomicose

para outros indivíduos através de um paciente infectado).  



























A infecção ocorre desde criança, nas áreas endêmicas, e tem maior prevalência em jovens de 15 a 19 anos. Observa-se na prática que o índice de casos de paracoccidioidomicose no homem é muito maior que na mulher. Acredita-se que a produção de hormônios estrógenos esteja inter-relacionada com a doença. É a única entre as micoses sistêmicas que apresenta esta característica. Além disso, os homens se expõem profissionalmente, na zona rural, mais que as mulheres, além de apresentarem altas taxas de alcoolismo e tabagismo. A doença é rara entre as crianças e na pré-puberdade (em torno dos 12 anos), sem haver prevalência de sexo.
Acredita-se que o habitat do fungo seja o solo rico em vegetação. O Brasil é o país com maior número de casos da América do Sul. A paracoccidioidomicose é a micose respiratória mais comum nas Américas do Sul e Central e no México. 
A maioria dos casos de paracoccidioidomicose disseminada infantojuvenil ocorre nos estados centrais do Brasil - São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás. No Rio Grande do Sul, é considerada área de alta endemicidade.

CARACTERÍSTICAS DO FUNGO

O Paracoccidioides brasilienses é um fungo dimórfico. Cresce como fungo filamentoso à temperatura de 25 a 30oC e como levedura no tecido e in vitro entre 35 e 37oC.
Na temperatura de 25 a 30oC, a forma filamentosa cresce lentamente. No ágar Sabouraud dextrose, produz colônia branca ou creme, elevada com pregas e dobras, com aspecto de "pipoca estourada". O micélio aéreo é curto e a colônia bem aderida ao meio. Na micromorfologia dessa colônia, apresenta hifas septadas com artrósporos, clamidosporos e aleuriosporos globosos.
A transformação da fase filamentosa para levedura se obtém cultivando a colônia em Ágar infusão de cérebro-coração (BHI) ou Ágar sangue com glicose e cisteína. Incubação entre 35 e 37oC. A colônia cresce na cor creme com aspecto enrugado e cerebriforme.
Imagem 2: Colônia filamentosa de Paracoccidioides brasilienses
em ágar Sabouraud. Note a cor branca  e o aspecto de "pipoca
estourada" deste fungo.
























A transformação da fase miceliana para leveduriforme tem influência da ação inibitória de estrógenos da mulher sobre o fungo, não ocorrendo com os hormônios masculinos. A transformação de filamentoso em levedura in vitro é inibida por 17-beta-estradiol e por dietilestilbestrol, porém não é inibida por testosterona ou 17-alfa-estradiol. O mecanismo do 17-beta-estradiol atua sobre o Paracoccidioides brasilienses, bloqueando a síntese de proteínas que se expressam durante a transformação da fase filamentosa em levedura e assim o estrógeno, por meio desse mecanismo, interfere na patogenicidade do Paracoccidioides brasilienses.

A seguir será descrito um caso de Paracoccidioidomicose.

RELATO DE CASO

Paciente R.P.F., presidiário do sistema prisional de Coronel Fabriciano-MG, sexo masculino, 36 anos de idade, morador da zona rural do município de Coronel Fabriciano-MG, é encaminhado para uma instituição de saúde localizada no município de Coronel Fabriciano com quadro de adenomegalia (inchado dos linfonodos) na região cervical (pescoço) bilateral, axilares bilaterais, supraclavicular direita, com quadro de dor intensa, febre de 39,5oC e perda de peso. 
Ao exame físico o médico nota que o paciente está emagrecido, hipocorado, hidratado e sem edemas em membros inferiores. Ao exame clínico, o profissional notou a presença de massa cervical bilateral, maior a direita e presença de nódulos no tórax e ausência de ponto de drenagem. 
No presídio, o paciente havia sido medicado com antibióticos (Amoxicilina + Ácido Clavulânico + Azitromicina), porém sem resposta clínica satisfatória. Nos últimos 10 dias, R.P.F. relata que teve uma perda de peso de 14 Kg. 
Com base nestes sintomas, o clínico solicitou os seguintes exames: Hemograma (que revelou uma contagem global de leucócitos de 22.160 células/mm3, com 05% de bastonetes e 76% de segmentados), ureia (25) e creatinina (0,8). Com os exames em mãos, o clínico solicitou avaliação do cirurgião e a coleta de aspirado do nódulo submandibular.
A punção do nódulo foi realizada e obteve-se um material purulento e sanguinolento, sendo solicitado ao laboratório de análises clínica a realização de pesquisa de BAAR (que foi negativa), Bacterioscopia (Ausência de microrganismos coráveis pela metodologia de Gram), Cultura para bactérias (Negativa) e pesquisa de fungos.
A pesquisa de fungos foi feita com adição de KOH 20%, para digestão e clareamento do material, para revelar a possível presença de elementos fúngicos. O resultado revelou a presença de numerosas células leveduriformes com múltiplos brotamentos em forma de "roda de leme" característicos de Paracoccidioides brasilienses. A imagem do exame micológico é demonstrada abaixo:
Imagem 3: Exame a fresco de de aspirado de nódulo submandibular
acrescido de KOH 20%. Note a presença ao centro da imagem de
uma levedura com múltiplos brotamentos em forma de roda de leme
compatíveis com Paracoccidioides brasilienses. 




















Imagem 4: Exame a fresco de de aspirado de nódulo submandibular
acrescido de KOH 20%. Note a presença ao centro da imagem de
numerosas leveduras com múltiplos brotamentos em forma de roda de 
leme compatíveis com Paracoccidioides brasilienses. 




























Com base nos resultados dos exames e na clínica do paciente, o diagnóstico final foi de Paracoccidioidomicose do tipo juvenil e foi instituído o seguinte tratamento para o paciente: Anfotericina B durante a internação do paciente, até que o mesmo ganhe alta do hospital e após a alta hospitalar, tratamento no presídio com Itraconazol por via oral. O paciente encontra-se ainda internado no hospital, mas seu quadro clínico já evoluiu de forma muito satisfatória.

DISCUSSÃO


1) Quais são os fatores de risco para a transmissão da Paracoccidioidomicose?

R: O grande fator de risco para aquisição da infecção são as profissões ou atividades relacionadas ao manejo do solo contaminado com o fungo, como por exemplo, atividades agrícolas, terraplenagem, preparo de solo, práticas de jardinagens, transporte de produtos vegetais, entre outros. Em todas as casuísticas, observa-se que a grande maioria dos pacientes exerceu atividade agrícola nas duas primeiras décadas de vida, tendo nessa época provavelmente adquirido a infecção, embora as manifestações clínicas tenham surgido muitos anos depois. A maioria destes pacientes, quando procuram atenção médica, já saíram da área endêmica, residindo em centros urbanos onde exercem outras atividades, não ligadas ao trato do solo. Tabagismo e alcoolismo estão freqüentemente associados à micose. Ao contrário de outras micoses, como a criptococose, a histoplasmose disseminada e a candidíase, a PCM não é usualmente relacionada a doenças imunodepressoras. Entretanto, há casos desta micose associados à infecção pelo HIV, neoplasias e, mais raramente, a transplantes de órgãos.

2) Quais são os sintomas da Paracoccidioidomicose?

R: Forma aguda ou juvenil: Esta forma de apresentação clínica é responsável por 3 a 5% dos casos da doença, predominando em crianças e adolescentes, mas podendo eventualmente, acometer indivíduos até os 35 anos de idade. A distribuição da forma aguda / subaguda é semelhante em crianças dos gêneros masculino e feminino. Esta forma clínica caracteriza-se por evolução mais rápida, onde o paciente geralmente procura o serviço médico entre 4 a 12 semanas de instalação da doença. Em ordem de freqüência, podemos destacar a presença de linfadenomegalia, manifestações digestivas, hepatoesplenomegalia, envolvimento ósteo-articular e lesões cutâneas como as principais formas de apresentação desta forma da micose.

R: Forma crônica ou adulto: Esta forma clínica responde por mais de 90% dos pacientes, e apresenta-se principalmente em adultos entre os 30 e 60 anos, predominantemente, do sexo masculino. A doença progride lentamente, de forma silenciosa, podendo levar anos até que seja diagnosticada. As manifestações pulmonares estão presentes em 90% dos pacientes. É chamada de apresentação unifocal quando a micose está restrita a somente um órgão. Os pulmões podem ser o único órgão afetado em até 25% dos casos. Geralmente, a doença envolve mais de um órgão simultaneamente (apresentação multifocal), sendo pulmões, mucosas e pele os sítios mais acometidos pela infecção.

3) Quais são as características do Paracoccidioides brasilienses?

R: Paracoccidioides brasiliensis é o agente etiológico da PCM, micose de alta endemicidade na América Latina. Taxonomicamente encontra-se no Reino Fungi, Filo Ascomycota, Classe Pleomycetes, Ordem Onigenales, Família Onygenaceae, Gênero Paracoccidioides e Espécie brasiliensis. P. brasiliensis apresenta dimorfismo termodependente, crescendo à temperatura ambiente sob a forma de colônias brancas, aderentes ao meio. Microscopicamente, observa-se hifas delgadas, hialinas, septadas, multinucleadas e ramificadas com produção de clamidósporos terminais ou intercalares, conídios e ausência de corpo de frutificação, sendo denominada de saprofítica ou micélio. Quando cultivado a 35ºC-37ºC, em meios enriquecidos desenvolve colônias de coloração creme, chamadas cerebriformes ou leveduriformes. Ao microscópico verifica-se a presença de células arredondadas ou ovais, multinucleadas, com paredes celulares espessas, birrefringentes, rodeadas por multibrotamentos, constituindo a variante L (levedura). Esta fase é conhecida também como parasitária, pois é encontrada causando lesões nos tecidos do hospedeiro humano ou animal.


4) Como se realiza o diagnóstico laboratorial da Paracoccidioidomicose?

R: Na PCM, como em outras micoses, o diagnóstico considerado como padrão-ouro é o isolamento do agente etiológico em cultura. Para o isolamento de P. brasiliensis recomenda-se o emprego de meios de cultura enriquecidos com extrato de levedura, contendo antibióticos ou, ainda, ágar infusão de cérebro e coração (BHI). O material semeado é incubado a 25ºC-30oC, crescendo lentamente (15 a 30 dias), sob a forma de micélio, apresentando colônias brancas ou amarronzadas, cotonosas ou glabrosas. Na maioria das vezes, as leveduras de P. brasiliensis podem ser facilmente visualizadas ao microscópio óptico. Normalmente, empregam-se secreções do trato respiratório, raspado e crostas de lesões ulceradas, tecidos de biópsia, pus de gânglios, urina e LCR, entre outros. Em material de punção ganglionar, por exemplo, visualizam-se células globosas, ovais ou elípiticas com 5µm a 25µm de diâmetro, inclusões citoplasmáticas e multibrotamentos com parede de duplo contorno refringente. Nos casos em que a biópsia é possível e menos lesiva para o paciente, colorações especiais como o Gomori-Groccott ou ácido periódico de Schiff podem auxiliar no diagnóstico, por meio da observação nos granulomas de células típicas multibrotantes. As células em múltiplo brotamento são esféricas (10µm a 20µm de diâmetro) e os brotos esféricos ou em forma de limão encontram-se dispostos ao redor da célula-mãe. Importante salientar que a PCM, principalmente em sua forma pulmonar, deve ser diferenciada de outras micoses e da tuberculose. Os achados clínicos e radiológicos são inespecíficos; no entanto, calcificação extensa, efusão pleural e localização apical são indicativas de histoplasmose e tuberculose. O diagnóstico diferencial com leishmaniose também assume grande importância, uma vez que as regiões endêmicas para esta patologia coincidem muitas vezes com as da PCM, sendo que as lesões orais, cutâneas e de fossas nasais são bastante semelhantes. O comprometimento do sistema linfático simula doença de Hodgkin e outras doenças malignas.


5) Como se realiza o tratamento da Paracoccidioidomicose?

R: O tratamento da paracoccidioidomicose consiste em duas fases: ataque e manutenção. O tratamento de ataque corresponde ao controle imediato dos sinais e sintomas da doença, como também à redução da carga parasitária para a recuperação da imunidade celular do hospedeiro, passo fundamental para o êxito do tratamento. A terapêutica de manutenção é realizada por tempo prolongado, até que se obtenham critérios de cura, buscando reduzir o risco de recorrência da doença. As drogas eficazes contra a paracoccidioidomicose compreendem três grupos: anfotericina B, do grupo de antibióticos poliênicos; sulfadiazina e outros compostos sulfanilamídicos; e o grupo de drogas azólicas com atuação sistêmica. A anfoterecina B foi o tratamento administrado para muitos pacientes com micoses profundas até recentemente. Entretanto, a droga é nefrotóxica e tem muitos outros efeitos colaterais. O emprego dos derivados azólicos como cetoconazol, fluconazol e itraconazol é eficaz tanto para a paracoccidioidomicose como para outras micoses. Esses fármacos inibem a síntese do ergosterol, causando uma perturbação na permeabilidade da membrana do fungo. O fluconazol pode ser administrado por via oral ou intravenosa, a absorção não é afetada pela alimentação ou pelo suco gástrico e aproximadamente 80% da dose é excretada na urina. A resistência fúngica a esta droga, mesmo quando usada por longos períodos, parece incomum, a não ser nos casos de portadores de AIDS. Embora as sulfas mostrem-se eficazes no tratamento da paracoccidioidomicose e sejam obtidas gratuitamente no sistema público, apresentam a desvantagem de terem que ser administradas várias vezes ao dia. Ainda, podem ocorrer efeitos colaterais como reação de hipersensibilidade, e o seu curso de terapia é mais longo quando comparado com o de outros fármacos. O itraconazol, na maioria dos casos relatados na literatura, é considerado uma excelente opção no tratamento da paracoccidioidomicose, devido a sua eficácia e tolerabilidade, demonstradas nos diversos estudos e ensaios clínicos e sua grande atividade antifúngica contra o Paracoccidioides brasiliensis. O sucesso da terapia depende tanto do antifúngico utilizado, como do grau de disseminação das lesões e da capacidade imunológica do paciente. A regressão das alterações clínicas é observada entre um e seis meses após o início do tratamento. Entretanto, a erradicação do fungo nos tecidos é demorada, e os doentes devem ser periodicamente examinados por meio de exames clínicos e complementares, para avaliar se ocorreu ou não a regressão dos sintomas e desaparecimento das lesões ativas.





DETECÇÃO FENOTÍPICA DOS PRINCIPAIS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA AOS MACROLÍDEOS EM Staphylococcus spp.

HIPEREXPRESSÃO DE BOMBAS DE EFLUXO


DEFINIÇÃO

São codificadas pela presença de um gene denominado msrA, que induz a síntese de bombas de efluxo que utilizam os Macrolídeos como substrato preferencial, gerando uma concentração subterapêutica da droga no interior do microrganismo, tornando desta forma a bactéria resistente a sua ação.

CLASSIFICAÇÃO

  • São bombas de efluxo;

ANTIMICROBIANOS AFETADOS

  • Eritromicina;
  • Claritromicina;
  • Azitromicina.

FORMA DE DISSEMINAÇÃO

  • Plasmidiais;
  • Cromossômicas (SCCmec --> transposição)

ANTIMICROBIANOS UTILIZADOS NA DETECÇÃO

  • Eritromicina;
  • Clindamicina

COMO DETECTAR FENOTIPICAMENTE

  • Através do D-Teste

D-TESTE

  • Preparar uma suspensão da cultura pura de Staphylococcus spp. equivalente a escala 0,5 MacFarland e semear em uma placa de ágar Mueller Hinton;
  • Colocar o disco de Eritromicina e 20 mm centro a centro deste, o disco de Clindamicina;
  • Incubar por 18-24 horas e realizar a leitura do halo de inibição.
  • POSITIVO: De acordo com a tabela 1.
  • NEGATIVO: De acordo com a tabela 1.
TABELA 1: CRITÉRIOS DE INTERPRETAÇÃO DO D-TESTE
MECANISMO
GENE
FENÓTIPO
ERI
CLI
TESTE DE INDUÇÃO
COMO REPORTAR
ALTERAÇÃO RIBOSSÔMICA
erm
MLSi
R
S
+
ERI - R
CLI - R
erm

MLSc
R
R
-
ERI - R
CLI - R
EFLUXO
msrA
-
R
S
-
ERI - R
CLI - S
 ERI = ERITROMICINA
CLI = CLINDAMICINA

EXEMPLO DE DETECÇÃO

Imagem 1: Staphylococcus aureus com expressão fenotípica do
gene msrA. Note a resistência a Eritromicina e a sensibilidade a
Clindamicina (discos no centro da placa). Esta cepa apresenta a
expressão de bombas de efluxo. A cepa acima é um MRSA.



















Imagem 2: Detalhe do D-teste. Note a resistência a Eritromicina
e a sensibilidade a Clindamicina (expressão fenotípica do gene
msrA).

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

MACROLÍDEOS

INTRODUÇÃO

Os Macrolídeos constituem um grupo de antibióticos formados quimicamente por heterosídeos, contendo um anel lactona macrocíclico. Os antibióticos deste grupo caracterizam-se por sua atividade sobre bactérias Gram-positivas e cocos Gram-negativos, atuando também sobre as bactérias atípicas e anaeróbias. Têm o mesmo mecanismo de ação bacteriostática por bloquearem a síntese proteica bacteriana. As drogas se ligam à subunidade 50S do ribossomo e impedem a transferência dos aminoácidos conduzidos pelo RNA de transporte para a cadeia polipeptídica em formação.
Imagem 1: Molécula de macrolídeo. Note a presença do anel
lactona macrocíclico. A molécula acima é do antimicrobiano Eritromicina.


















MECANISMO DE AÇÃO

Apresentam ação bacteriostática por bloquearem a síntese proteica bacteriana. As drogas se ligam à subunidade 50S do ribossomo e impedem a transferência dos aminoácidos conduzidos pelo RNA de transporte para a cadeia polipeptídica em formação.
Imagem 2: Mecanismo de ação dos Macrolídeos.
Note que estes antimicrobianos se ligam a porção 50S
do ribossomo bacteriano e impedem a transferência dos
aminoácidos do RNA-t para o RNA-m no ribossomo
inibindo desta forma a síntese proteica.



















PRINCIPAIS REPRESENTANTES

  • Eritromicina;
  • Claritromicina;
  • Azitromicina.


Imagem 3: Molécula de Azitromicina





















Imagem 4: Molécula de Claritromicina
















Imagem 5: Molécula de Eritromicina















PRINCIPAIS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA

  • Hiperexpressão de bombas de efluxo (gene msrA);
  • Metilação na porção 23S do rRNA (gene erm).